Manuel Bandeira foi um escritor brasileiro, além de
professor, crítico de arte e historiador literário. Fez parte da primeira
geração modernista no Brasil.
Com uma obra recheada de lirismo
poético, Bandeira foi adepto do verso livre, da língua coloquial, da
irreverência e da liberdade criadora. Os principais temas explorados pelo
escritor são o cotidiano e a melancolia.
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
nasceu no dia 19 de abril de 1886, no Recife, Pernambuco.
Aos dez anos de idade mudou-se para o
Rio de Janeiro onde estudou no Colégio Pedro II entre os anos de 1897 a 1902.
Mais tarde, formou-se em Letras.
Em 1903, começa a estudar Arquitetura
na Faculdade Politécnica em São Paulo. No entanto, abandona o curso pois sua
saúde fica frágil.
Diante disso, procura curar-se da
tuberculose em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Suíça, onde permanece durante um
ano.
De volta ao Brasil, em 1914, dedica-se a sua verdadeira paixão: a literatura. Durante anos de trabalhos publicados em periódicos, publica seu primeiro livro de poesias intitulado “A Cinza das Horas” (1917).
Nessa obra, merece destaque a poesia “Desencanto”
escrita na região serrana do Rio de Janeiro, Teresópolis, em 1912, durante a
recuperação de sua saúde:
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia
ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira publicou uma vasta obra até sua morte, desde
contos, poesias, traduções e críticas literárias.
Em sua trajetória laboral, destaca sua atuação como professor
de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, em 1938.
Foi também professor de Literatura Hispano-Americana, de 1942
a 1956, da Faculdade Nacional de Filosofia, onde se aposentou.
Faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos, em 13 de outubro de
1968, vítima de hemorragia gástrica.
Na Academia Brasileira de Letras (ABL), Manuel Bandeira foi o
terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940. Anteriormente,
o lugar esteve ocupado pelo escritor Luís Guimarães Filho.
"A comoção com que neste momento vos agradeço a honra
de me ver admitido à Casa de Machado de Assis não se inspira somente na
simpatia daqueles amigos que a meu favor souberam inclinar os vossos espíritos.
Inspira-se também na esfera das sombras benignas, a cujo calor de imortalidade
amadurece a vocação literária." (trecho do Discurso de Posse)
Poesia
•
A
Cinza das Horas (1917)
•
Carnaval
(1919)
•
Libertinagem
(1930)
•
Estrela
da Manhã (1936)
•
Lira
dos Cinquent'anos (1940)
Prosa
•
Crônica
da Província do Brasil (1936)
•
Guia
de Ouro Preto, Rio de Janeiro (1938)
•
Noções
de História das Literaturas (1940)
•
Autoria
das Cartas Chilenas (1940)
•
Literatura
Hispano-Americana (1949)
•
De
Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro (1954)
•
A
Flauta de Papel - Rio de Janeiro (1957)
•
Itinerário
de Pasárgada (1957)
•
Andorinha,
Andorinha (1966)
Antologia
•
Antologia
dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica (1937)
•
Antologia
dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana (1938)
•
Antologia
dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos (1946)
•
Antologia
Poética (1961)
•
Poesia
do Brasil (1963)
•
Os
Reis Vagabundos e mais 50 crônicas (1966)
•
Poemas
•
Para
compreender melhor a linguagem e o estilo de Manuel Bandeira, segue abaixo
alguns de seus melhores poemas:
•
Porquinho-da-Índia
•
—
O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
•
Pneumotórax
•
Febre,
hemoptise, dispneia e suores noturnos.
•
A
vida inteira que podia ter sido e que não foi.
•
Tosse,
tosse, tosse.
•
Mandou
chamar o médico:
•
—
Diga trinta e três.
•
—
Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
•
—
Respire.
•
—
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
•
—
Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
•
—
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
💟------------------------------------------------💟
Este poema de Manuel Bandeira relata uma cena
cotidiana, em que qualquer pessoa poderia se deparar com situação semelhante. O
autor utiliza uma linguagem coloquial e acessível, recorrendo à
simplicidade, característica tão marcante em sua obra.
Há uma surpresa preparada para o leitor… o texto se inicia
com refinada transitoriedade, talvez se perceba até mesmo o silêncio de uma rua
vazia, ecoando alguns movimentos solitários e pontuais. Porém, há perplexidade
quando se anuncia que o bicho descrito, que poderia se passar despercebido, na
realidade é um homem.
Como se pode observar, este poema foi escrito na cidade do
Rio de Janeiro, dois dias após o Natal, portanto a cena se teria realizado no
eco das festas comemorativas e de fartura. O personagem estaria buscando restos
das alegrias de outras pessoas, evidenciando aí as desigualdades sociais de uma
cidade urbana.
O poema intensifica a dinâmica da fome: não examinar nem cheirar demonstra ações imediatas e vorazes, próprias de um ser irracional, a que se reduz um homem diante a calamidade. Estar rebaixado além do cão, do gato e do rato introduz o impacto emocional do expectador, que impotente observa. Impotente, porém não passivo, pois denuncia através da palavra as condições de sofrimento e desumanidade da miséria. Ver uma pessoa na rua numa grande cidade revirando o lixo talvez não causasse tamanha comoção, pois que o hábito de conviver com a pobreza banaliza. Manuel Bandeira a coloca no seu devido patamar de sensação: a de repúdio, a da lamentação, pois este olhar verdadeiro diante um homem em necessidades extremas é o de identificação, de empatia.
QUESTÕES
SOBRE O TEXTO
1. Assinale
o verso do poema que mostra a fome.
A – Vi ontem
um bicho
B – Na
imundície do pátio
C – Não
examinava nem cheirava:
D – Engolia
com voracidade.
E – O bicho
não era um cão,
2.
“Quando achava alguma coisa,” A conjunção grifada introduz uma
ideia de:
A – Tempo
B – Modo
C –
Adversidade
D – Adição
E –
Concessão
3. O poeta
exprime sua indignação por ver um homem alimentar-se de detritos com as
seguintes palavras:
A – Não era
um gato
B – Era um
homem
C – Engolia
com voracidade
D – Não era
um rato
E – Na
imundície do pátio
4. “O
bicho, meu Deus, era um homem.” A expressão grifada nesse verso se
classifica como:
A – Sujeito
B – Objeto
C – Aposto
D – Vocativo
E – Adjunto
5. “Não
examinava nem cheirava:” A conjunção grifada se classifica
como:
A – Temporal
B – Modal
C –
Adversativa
D – Aditiva
E –
Concessiva
6. Os
verbos “achava”, “examinava” e “cheirava” se encontram no tempo:
A – Presente
B –
Pretérito Perfeito
C –
Pretérito Imperfeito
D – Pretérito
mais-que-perfeito
E – Futuro
7.
“Quando achava alguma coisa,” A palavra “alguma”, nesse
verso, se classifica como um pronome:
A –
Indefinido
B – Demonstrativo
C – Pessoal
D – Relativo
8. “Engolia com
voracidade.” A expressão grifada nesse verso se classifica como um:
A – Objeto
direto
B –
Complemento nominal
C – Adjunto
adverbial
D – Adjunto
adnominal
E – Aposto
9.
Pode-se inferir através desse texto que:
A – Há mais
de 40 anos há problemas com o lixo.
B – Há menos
de 20 anos surgiram problemas com o lixo.
C – Jamais
houve problemas com o lixo.
D – Há cão,
rato e gato nos lixões brasileiros.
10. Sobre
esse poema de Manuel Bandeira só é CORRETO afirmar que ele:
A – Possui
rimas ricas e preciosas.
B – Segue a
uma metrificação tradicional.
C – É
moderno.
D – Não fala
de realidade.
E – Possui diversas figuras literárias.
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Bjs