3.8.22

Transformação de notícia em poema






Manuel Bandeira foi um escritor brasileiro, além de professor, crítico de arte e historiador literário. Fez parte da primeira geração modernista no Brasil.

Com uma obra recheada de lirismo poético, Bandeira foi adepto do verso livre, da língua coloquial, da irreverência e da liberdade criadora. Os principais temas explorados pelo escritor são o cotidiano e a melancolia.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu no dia 19 de abril de 1886, no Recife, Pernambuco.

Aos dez anos de idade mudou-se para o Rio de Janeiro onde estudou no Colégio Pedro II entre os anos de 1897 a 1902. Mais tarde, formou-se em Letras.

Em 1903, começa a estudar Arquitetura na Faculdade Politécnica em São Paulo. No entanto, abandona o curso pois sua saúde fica frágil.

Diante disso, procura curar-se da tuberculose em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Suíça, onde permanece durante um ano.

De volta ao Brasil, em 1914, dedica-se a sua verdadeira paixão: a literatura. Durante anos de trabalhos publicados em periódicos, publica seu primeiro livro de poesias intitulado “A Cinza das Horas” (1917).


Nessa obra, merece destaque a poesia “Desencanto” escrita na região serrana do Rio de Janeiro, Teresópolis, em 1912, durante a recuperação de sua saúde:

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira publicou uma vasta obra até sua morte, desde contos, poesias, traduções e críticas literárias.

 

Em sua trajetória laboral, destaca sua atuação como professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, em 1938.

Foi também professor de Literatura Hispano-Americana, de 1942 a 1956​, da Faculdade Nacional de Filosofia, onde se aposentou.

Faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos, em 13 de outubro de 1968, vítima de hemorragia gástrica.

Na Academia Brasileira de Letras (ABL), Manuel Bandeira foi o terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940. Anteriormente, o lugar esteve ocupado pelo escritor Luís Guimarães Filho.

"A comoção com que neste momento vos agradeço a honra de me ver admitido à Casa de Machado de Assis não se inspira somente na simpatia daqueles amigos que a meu favor souberam inclinar os vossos espíritos. Inspira-se também na esfera das sombras benignas, a cujo calor de imortalidade amadurece a vocação literária." (trecho do Discurso de Posse)

Poesia

      A Cinza das Horas (1917)

      Carnaval (1919)

      Libertinagem (1930)

      Estrela da Manhã (1936)

      Lira dos Cinquent'anos (1940)

Prosa

      Crônica da Província do Brasil (1936)

      Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro (1938)

      Noções de História das Literaturas (1940)

      Autoria das Cartas Chilenas (1940)

      Literatura Hispano-Americana (1949)

      De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro (1954)

      A Flauta de Papel - Rio de Janeiro (1957)

      Itinerário de Pasárgada (1957)

      Andorinha, Andorinha (1966)

Antologia

      Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica (1937)

      Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana (1938)

      Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos (1946)

      Antologia Poética (1961)

      Poesia do Brasil (1963)

      Os Reis Vagabundos e mais 50 crônicas (1966)

      Poemas

      Para compreender melhor a linguagem e o estilo de Manuel Bandeira, segue abaixo alguns de seus melhores poemas:

      Porquinho-da-Índia

      Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…

      — O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

      Pneumotórax

      Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

      A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

      Tosse, tosse, tosse.

      Mandou chamar o médico:

      — Diga trinta e três.

      — Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

      — Respire.

      — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

      — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

      — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

 

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Este poema de Manuel Bandeira relata uma cena cotidiana, em que qualquer pessoa poderia se deparar com situação semelhante. O autor utiliza uma linguagem coloquial e acessível, recorrendo à simplicidade, característica tão marcante em sua obra.

Há uma surpresa preparada para o leitor… o texto se inicia com refinada transitoriedade, talvez se perceba até mesmo o silêncio de uma rua vazia, ecoando alguns movimentos solitários e pontuais. Porém, há perplexidade quando se anuncia que o bicho descrito, que poderia se passar despercebido, na realidade é um homem.

Como se pode observar, este poema foi escrito na cidade do Rio de Janeiro, dois dias após o Natal, portanto a cena se teria realizado no eco das festas comemorativas e de fartura. O personagem estaria buscando restos das alegrias de outras pessoas, evidenciando aí as desigualdades sociais de uma cidade urbana.

O poema intensifica a dinâmica da fome: não examinar nem cheirar demonstra ações imediatas e vorazes, próprias de um ser irracional, a que se reduz um homem diante a calamidade. Estar rebaixado além do cão, do gato e do rato introduz o impacto emocional do expectador, que impotente observa. Impotente, porém não passivo, pois denuncia através da palavra as condições de sofrimento e desumanidade da miséria. Ver uma pessoa na rua numa grande cidade revirando o lixo talvez não causasse tamanha comoção, pois que o hábito de conviver com a pobreza banaliza. Manuel Bandeira a coloca no seu devido patamar de sensação: a de repúdio, a da lamentação, pois este olhar verdadeiro diante um homem em necessidades extremas é o de identificação, de empatia.



QUESTÕES SOBRE O TEXTO 

 

1.   Assinale o verso do poema que mostra a fome.

A – Vi ontem um bicho

B – Na imundície do pátio

C – Não examinava nem cheirava:

D – Engolia com voracidade.

E – O bicho não era um cão,

2.   “Quando achava alguma coisa,” A conjunção grifada introduz uma ideia de:

A – Tempo

B – Modo

C – Adversidade

D – Adição

E – Concessão

3. O poeta exprime sua indignação por ver um homem alimentar-se de detritos com as seguintes palavras:

A – Não era um gato

B – Era um homem

C – Engolia com voracidade

D – Não era um rato

E – Na imundície do pátio

4. “O bicho, meu Deus, era um homem.” A expressão grifada nesse verso se classifica como:

A – Sujeito

B – Objeto

C – Aposto

D – Vocativo

E – Adjunto

5.  “Não examinava nem cheirava:” A conjunção grifada se classifica como:

A – Temporal

B – Modal

C – Adversativa

D – Aditiva

E – Concessiva

6.   Os verbos “achava”, “examinava” e “cheirava” se encontram no tempo:

A – Presente

B – Pretérito Perfeito

C – Pretérito Imperfeito

D – Pretérito mais-que-perfeito

E – Futuro

7. “Quando achava alguma coisa,”  A palavra “alguma”, nesse verso, se classifica como um pronome:

A – Indefinido

B – Demonstrativo

C – Pessoal

D – Relativo

8.  “Engolia com voracidade.”  A expressão grifada nesse verso se classifica como um:

A – Objeto direto

B – Complemento nominal

C – Adjunto adverbial

D – Adjunto adnominal

E – Aposto

9.  Pode-se inferir através desse texto que:

A – Há mais de 40 anos há problemas com o lixo.

B – Há menos de 20 anos surgiram problemas com o lixo.

C – Jamais houve problemas com o lixo.

D – Há cão, rato e gato nos lixões brasileiros.

10. Sobre esse poema de Manuel Bandeira só é CORRETO afirmar que ele:

A – Possui rimas ricas e preciosas.

B – Segue a uma metrificação tradicional.

C – É moderno.

D – Não fala de realidade.

E – Possui diversas figuras literárias.

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Bjs