19.6.22

Interpretação em foco! A triste partida - Patativa do Assaré


Mesmo com um linguajar rude falado pelo sertanejo, crivado de erros e mutilações, a poesia de Patativa do Assaré teve projeção por todo o Brasil com a gravação de "Triste Partida" (1964), pelo cantor Luiz Gonzaga.



A triste partida: Patativa do Assaré

Setembro passou
outubro e novembro
Já estamos em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.

A treze do mês
Ele fez experiência,
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal.
Mas noutra experiência
Com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natal.

Rompeu-se o Natal,
Porém barra não veio,
O sol bem vermelho,
Nasceu muito além.
Na copa da mata,
Buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois a barra não tem.

Sem chuva na terra
Descamba janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão.
Entonce o roceiro
Pensando consigo,
Diz: “Isso é castigo!
Não chove mais não!”

Apela pra março,
Que é o mês preferido
Do santo querido.
Senhor São José.
Mas nada de chuva!
Tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando
Seguir outra tria,
Chamando a família
Começa a dizer:
“Eu vendo meu burro,
Meu jegue e o cavalo,
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer.”

Nós vamos a São Paulo,
Que a coisa está feia;
Por terras alheias
Nós vamos vagar.
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho,
Pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar.

E vende seu burro,
Jumento e o cavalo,
Até mesmo o galo
Venderam também,
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro,
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem.
Em cima do carro
Se junta a família;
Chegou o triste dia,
Já vai viajar.
A seca terrível,
Que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natal.

O carro já corre
No topo da serra.
Olhando pra terra,
Seu berço, seu lar,
Aquele nortista,
Partido de pena,
De longe acena:
Adeus, Ceará!

No dia seguinte,
Já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a correr,
Tão triste, coitado,
Falando saudoso,
O filho choroso
Exclama a dizer:
“De pena e saudade,
Papai sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comer?”
Já outro pergunta:
“Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrer!”

E a linda pequena,
Tremendo de medo:
“Mamãe, meus brinquedos!
Meu pé de fulo!
Meu pé de roseira,
Coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.”

E assim vão deixando,
Com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo azul.
O pai pesaroso,
Nos filhos pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Sul.

Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado.
O pobre acanhado,
Procura um patrão.
Só vê cara estranha,
Da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.

Trabalha dois anos,
Três ano e mais ano,
E sempre nos planos
De um dia ainda vim.
Mas nunca ele pode,
Só vive devendo.
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.

Se alguma notícia

Das bandas do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir,
Lhe bate no peito
Saudade lhe molho,
E as águas nos olhos
Começa a cair.

Do mundo afastado,
Sofrendo desprezo,
Ali vive preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando,
Vai dia e vem dia,
E aquela família
Não volta mais não!

Distante da terra
Tão seca, mas boa,
Exposto à garoa,
A lama e o pau
Faz pena o nortista,
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
Nas terras do Sul.


Patativa do Assaré



Biografia

Patativa do Assaré (1909-2002) foi um poeta e repentista brasileiro, um dos principais representantes da arte popular nordestina do século XX. Com uma linguagem simples, porém poética, retratava a vida sofrida e árida do povo do sertão. Projetou-se nacionalmente com o poema "Triste Partida" em 1964, musicado e gravado por Luiz Gonzaga. Seus livros, traduzidos em vários idiomas, foram tema de estudos na Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular Universal.
Infância e Adolescência

Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva) nasceu no sítio Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. Foi o segundo dos cinco filhos dos agricultores Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva.

Com seis anos, perdeu a visão do olho direito em consequência do sarampo. Órfão de pai aos oito anos de idade teve que trabalhar no cultivo da terra, ao lado do irmão mais velho, para sustentar a família.

Com a idade de 12 anos, Patativa do Assaré frequentou uma escola durante quatro meses onde aprendeu um pouco da leitura e se tornou apaixonado pela poesia. Com 13 anos começou a fazer pequenos versos. Com 16 anos comprou uma viola e logo começou a fazer repentes com os motes que lhe eram apresentados.
O Apelido de Patativa do Assaré

Descoberto pelo jornalista cearense José Carvalho de Brito, Patativa publicou seus textos no jornal Correio do Ceará. O apelido de Patativa surgiu porque suas poesias eram comparadas com a beleza do canto dessa ave nativa da Chapada do Araripe.

Com vinte anos, Patativa do Assaré começou a viajar por várias cidades do Nordeste e diversas vezes se apresentou na Rádio Araripe. Viajou para o Pará em companhia de um parente José Alexandre Montoril, que lá morava.

Patativa passou cinco meses cantando ao som da viola em companhia dos cantadores locais. Nessa época, incorpora o Assaré ao seu nome. Patativa do Assaré que foi casado com D. Belinha, teve nove filhos.
Primeiro Livro de Poesias

Entre 1930 e 1955, Patativa permanece na Serra de Santana, quando compõe a maior parte de sua poesia. Nessa época, passa a declamar seus poemas na Rádio Araripe, quando é ouvido pelo filólogo José Arraes, que o ajuda na publicação de seu primeiro livro, “Inspiração Nordestina” (1956), onde reuniu vários de seus poemas.
























INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

A TRISTE PARTIDA

1. Há um inseto que, ao cantar, mostra a continuidade da seca, ou seja, diz que a chuva está distante. Nesse texto, podemos identificá-lo. Trata-se do seguinte inseto:
( ) formiga
( ) cigarra
( ) abelha
( ) gafanhoto
( ) mosquito

2. Ao viajar, o nordestino vendeu suas coisas. Quem comprou seus pertences foi:
( ) um padre ( ) um comerciante ( ) um mendigo
( ) um amigo ( ) um fazendeiro ( ) outro retirante

3. O transporte utilizado para a longa viagem foi:
( ) trem
( ) avião
( ) caminhão
( ) navio
( ) automóvel

4. O dinheiro recebe muitos nomes em situações diversas. Nesse texto, o nome dado ao dinheiro é:
( ) grana
( ) dólar
( ) cobre
( ) didim
( ) moeda

5. No início da música fala-se de “nós’’. Esse pronome “nós” aqui se refere a:
( ) paulistas ( ) nordestinos ( ) gaúchos
( ) baianos ( ) cariocas ( ) mineiros

6. O tema desse texto é:
( ) seca ( ) chuva ( ) Deus ( ) fome ( ) fartura

7. O santo de devoção daquele povo nordestino é:
( ) Santo Antônio ( ) São Francisco ( ) São José ( ) São Paulo
8. A música conta a história de uma viagem. O itinerário da viagem é:
( ) São Paulo – Nordeste ( ) Minas – Bahia
( ) Rio – São Paulo ( ) Nordeste – São Paulo
9. Para comprar as passagens, o personagem teve que vender:
( ) bicicleta, cavalo, jegue, gato ( ) burro, cachorro, jegue, galo
( ) burro, cavalo, jegue, galo ( ) bicicleta, cavalo, jumento, galo
( ) Todas as Respostas Anteriores. ( ) Nenhuma das respostas anteriores

10. Pode-se notar que aquela família era formada de:
( ) uma pessoa ( ) duas pessoas ( ) três pessoas ( ) mais de três pessoas

11. O que expulsou aquela família de sua terra natal foi:
( ) enchente ( ) fogo ( ) seca ( ) o fazendeiro

12. Os dois meninos se preocuparam com:
( ) cachorro e gato ( ) gato e galo
( ) burro e jumento ( ) o pé de flor e cachorro

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Bjs